sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Live and Let Die

E aí, como em todo processo cíclico - já conhecido de longa data -, você volta a se sentir entendiado. Pára (maldita nova regra gramatical onde "para" não tem mais acento, não consigo aceitar isso! ) e pensa os motivos pelos quais você se sente assim. Exatamente como te ensinaram na terapia. Aquele 'be-a-bá' tão conhecido entre os atormentados.

Você cria milhões de teorias e motivos e pseudo-soluções. Nada adianta. E tudo bem, porque lá também te ensinam que é assim mesmo, você precisa continuar tentando encontrar o tal cerne da questão e que, só quando você encontrar, poderá 'superar' a tal sensação que você tenta reverter desde que você se conhece por gente.

- So boring.

A verdade é que é o de sempre. Uma sucessão de sensações estranhas que acontecem de tempos em tempos e que deixaria qualquer um apreenssivo. Muita gente se sente assim.

- Fato.

Você se sente confortável por alguns instantes, mas logo percebe que a sensação ainda está ali.

- O óbvio é uma merda mesmo. Nossa...

E aí pensa o que poderia fazer naquele exato segundo.

- Nada, né...

E aí que talvez você não queira fazer nada. Talvez seja apenas uma questão de esperar passar.

- Talvez.

Final de todas as quartas-feiras, às 19h15.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

O dia em que fugi de casa


O título deveria ser 'uma das vezes que eu fugi de casa', já que eu comecei a "fugir" de casa aos 12 anos. Mas essa é outra história.

A verdade é que ninguém foge de casa aos 20 anos. A única pessoa que poderia achar uma coisa destas seria uma mãe, que é o caso.

Vou tentar contar de uma maneira engraçada, inclusive as partes que são semi-trágicas porque rir das coisas que passaram é o que nos resta no final das contas. Porém também preciso explicar detalhes importantes que são anteriores à fuga.

Um belo dia deu na telha do meu irmão se mudar para Floripa - temos a tendência de ter telhas meio soltas mesmo. E foi. E eu fiquei aqui, morrendo de saudade e de preocupação,afinal, se eu tinha 20, ele tinha 17 ou 18 anos.

Hoje eu sei que quanto mais novos, mais idiotas somos - essa equação é infalível! - e, nessa época idiota, eu resolvi ir à um cartomante - vejam só! Mas não pensem que era qualquer cartomante não! Era indicação de gente de confiança, amigona mesmo, de infância e tudo mais, sabe? Segundo ela, o cara falava TUDO sem você dizer absolutamente nada e ainda te contava TUDO o que ia acontecer no seu futuro, o que mais eu poderia querer aos 20 anos?

E lá fui eu, para a casa do caralho, que nem sei dizer onde exatamente, mas era no extremo da zona norte - sim, eu fui idiota de ir, mas isso me rendeu boas risadas, uma história, um passeio delicioso com essa amiga querida e duas blusinhas que eu adorei usar durante anos, já que eles também tinham uma arara com roupas legais para as meninas acompanhantes se divertirem, enquanto esperavam as amigas se 'consultarem' com o tal guru.

Não dá pra esquecer o que ele me disse. Entre outras coisas que eu jamais me lembraria, ficaram duas bem interessantes: a primeira foi que o namoradinho que eu tinha na época, era 'meio gay' e já tinha 'se relacionado' com o primo, que também era meu amigo e o qual esse namoradinho morria de ciúme. A outra era que meu irmão - que tinha acabado de se mudar para Floripa e que sempre teve e ainda tem uns parafusos a menos - poderia sofrer um acidente ou poderia ser preso por causa de um conhecido que fazia umas coisas 'erradas'.

Pronto. O guru conseguiu me preocupar, já que eu não tinha dito a ele que meu irmão tinha ido morar em outra cidade, mas ele insistia que eu precisava avisá-lo dessa possível 'tragédia'.

Como se não bastasse, por algum motivo surreal, meu irmão que ainda não tinha dado sinal de fumaça, me ligou de lá nessa mesma noite, dizendo que estava com saudade e que as coisas lá não estavam às mil maravilhas. Bastou para dar em minha telha que eu tinha que ir até lá ver o que estava acontecendo.

Chegamos na parte que eu 'fugi' de casa.

Era final de ano, perto do natal. Eu não tive dúvidas: não falei nada em casa - já que eu sabia que minha ideia seria execrada - fiz minhas malas, liguei para minha amiga mais querida e mais antiga da vida e pedi carona até a rodoviária - essa não era a mesma do guru e sempre teve esse mesmo ímpeto de fugir de casa desde criança, mas como ela não tinha uma avó por perto, ela sempre fugia para a minha casa, que era no andar debaixo da casa dela. Eu adorava quando ela fazia isso! Passei as melhores e as piores coisas ao lado dela.

Eu tinha um dinheiro guardado - que nem sei como consegui porque eu não trabalhava, mas minha mãe trabalhava - que dava para a passagem de ida e para a passagem de volta, mais uns 50 reais que, na minha cabeça, dava pra passar 15 dias comendo pão com manteiga todos os dias. Minha intenção era arrumar um trabalho de garçonete enquanto estivesse lá. Também era minha intenção não voltar mais para São Paulo, acho que por isso minha mãe define essa viagem como uma fuga.

Liguei para os meus pais e disse que estava indo encontrar meu irmão em Floripa e que não sabia quando voltava. Ia passar natal e e ano novo por lá. Coitados, nenhum filho deveria fazer esse tipo de coisa com os pais.

Essa amiga usava um Uno Mille prata da mãe dela. Era engraçado porque quando ela dirigia, era uma aventura! Geralmente não estávamos nos nossos estados normais. Infelizmente, não temos noção do quanto a vida é boa enquanto ela é boa, só percebemos depois que tudo passa a ser a mesma coisa todo dia.

Cheguei na rodoviária, comprei a passagem e ela me colocou no ônibus, sempre me incentivando, como fazia desde que tínhamos 1 ano - e ela 2 - de vida.

Depois de passar 12 horas no ônibus, finalmente cheguei à Floripa. Não tenho como definir minha excitação e felicidade desse momento. Eu me sentia livre, havia rompido com todas as minhas ligações umbilicais. Meu irmão me esperava na rodoviária e aquele abraço em que eu pulei no colo dele é indescritível.

O dia estava lindo, ensolarado. Pegamos um ônibus para a casa que ele estava morando com mais três amigos. A casa era um quarto, com um armário, duas camas e um colchão. A cozinha tinha um fogão, uma geladeira, uma panela de macarrão e uma frigideira. E só. Essa era a casa. Em uma tranquila rua de terra, com um lago lindo um pouco mais a frente.

Eu poderia dormir no quarto com eles ou na cozinha. Decidi dormir na cozinha. Comprei pão com mortadela pra todo mundo no primeiro dia, afinal, todo mundo dividia tudo o que tinha e essa era a melhor parte.

Todo mundo conhece Floripa. As pessoas são bonitas e bem educadas, as praias são lindas e limpas e os "manézinhos" - como são carinhosamente chamados por causa da colonização portuguesa, em que o rei da época chamava-se Manuel (ah! um português chamado Manuel? Não diga!) - não iam lá muito com a cara dos paulistas. Porém ainda não sabíamos desta "xenofobia".

Meu irmão, meus amigos e eu gostávamos muito de graffitti - e ainda gostamos, cada um à sua maneira - e uma noite decidimos levar um pouquinho da arte de São Paulo para Floripa, afinal, nada melhor do que deixar sua cor em outra cidade.

Estávamos em 6 amigos pintando tranquilamente - como fazíamos em São Paulo -, um muro de pedras, bem perto da casa em que estávamos morando, quando uma viatura de policias manézinhos passou. Disfarçamos, escondemos as latas de spray e saimos andando, também como fazíamos em São Paulo. Mas os manézinhos xenófobos sentiram aquele cheiro gostoso de tinta e resolveram voltar para averiguar o que estava acontecendo - acho que foi nesse momento que eu descobri uma das poucas coisas boas de ser menina.

Eu já estava do outro lado da rua, com uma mochila cheia de latas. Resolvi jogar a mochila no meio de um matagal ao meu lado. Os manézinhos policias resolveram também vir falar com a gente - os paulistas que iam pra Santa Catarina fazer baderna - sobre aquele "vandalismo", e dois dos meus amigos tinham latas no bolso.

Chegamos agora nas partes 'trágicas' da história.

Me perguntaram - a única menina, que salvou meu irmão e dois amigos - se eu conhecia os outros dois que estavam com as latas no bolso. Com um cutucão, quase chorando de culpa, eu disse que não. Nesse momento, um manézinho resolveu usar seu spray de pimenta nos olhos de um dos meus amigos e me disseram pra sair andando. Eu e mais três, tivemos que deixar dois para trás - essa foi a primeira vez em que me senti a pior pessoa do mundo.

Andamos um pouco e eu sentia horror de pensar que eles poderiam encontrar minha mochila no meio do mato. Um pouco adiante, precisei correr de medo. Os outros correram também. Entramos no meio do mato e dois caíram em um pântano. Mesmo em meio ao total pânico, caímos na risada, foi hilário.

Os manézinhos levaram meus dois amigos para a delegacia. Passaram a noite presos - já estavam acostumados a passar por esse tipo de coisa por serem pegos grafitando. A única que tinha carteira de motorista era eu, então peguei o carro de um dos amigos que foi preso e fui até a delegacia tentar convencer os policiais a não continuarem com aquela maluquice.

Quando cheguei, umas 6 da manhã, eles já nao estavam mais lá. Tinham sido liberados com a condição de limparem o muro no dia seguinte, com qualquer coisa que tirasse nossa arte de lá.

Os meninos passaram dias limpando o tal muro. E, nesta altura do campeonato - não havia celular, nem telefone na casa -, resolvi ligar para casa. Era natal e eu queria dizer olá. Me atenderam como se eu estivesse na Guerra do Vietnã. Me pediram pra voltar. Eu não queria voltar, estava feliz, em liberdade! Disse que estava bem, desejei feliz natal a todos, mas ninguém estava feliz com a minha viagem e eu estava realmente com fome. Não aguentava mais comer pão com manteiga. No entanto, não sofri com isso nem por um minuto.

Não consegui o tal emprego de garçonete, voltei pra casa 20 dias depois, já que não tinha mais como viver. Comi pão todo os dias, mas pude tirar a roupa às 5 da manhã e entrar no mar, dormir na areia no ano novo sem ônibus pra voltar pra casa, conhecer pessoas extremamente estranhas, ver meu amigo tomar água com a torneira fechada, brigar com um cara que estava gritando com uma mulher e conhecer uma ilha linda, de uma maneira excêntrica, exatamente do jeito que eu gosto de viver as coisas: com as veias e os nervos expostos.

Senti culpa por tudo isso durante muitos anos. Hoje posso dizer: essa foi a melhor viagem da minha vida e eu faria absolutamente tudo outra vez. Simplemente porque não existe maneira de romper nada na vida sem destruir as expectativas que você - e as pessoas ao seu redor - tem em relação à você.



Praia da Joaquina

quinta-feira, 24 de junho de 2010

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Do avesso

Se tudo começou no avesso
Se do fim nasceu um começo
Se quando eu estava, você fugia
Se quando eu fugia, você ficava

Caída, você se esticava pra me dar a mão
Submerso, eu desesperada te procurava
De tanto procurar, perdi
De tanto gritar, não me fiz ouvir

Hoje, sigo calada, no avesso de mim
Esperando o recomeço de um fim
Porque algumas vidas são assim
O revés de um sim.

T.L. 21/06/10

Procurei um samba pra nós dois. Não encontrei.


sexta-feira, 18 de junho de 2010

Poema à boca fechada

"Não direi:
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é de outra raça.

Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaza de fundo em que há raízes tortas.

Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.

Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais bóiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.

Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quando me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo."

José Saramago

quinta-feira, 17 de junho de 2010

"Sossega, coração! Não desesperes!
Talvez um dia, para além dos dias,
Encontres o que queres porque o queres.
Então, livre de falsas nostalgias,
Atingirás a perfeição de seres.

Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
Pobre esperença a de existir somente!
Como quem passa a mão pelo cabelo
E em si mesmo se sente diferente,
Como faz mal ao sonho o concebê-lo!

Sossega, coração, contudo! Dorme!
O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme,
A grande, universal, solente pausa
Antes que tudo em tudo se transforme."

Fernando Pessoa [2-8-1933]

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Desatando "nós"

Um certo dia, ao acordar, ela percebeu que sua vida era como uma peça de teatro, em que diversos personagens já haviam passado.

Personagens que ela havia criado, sem nenhuma intenção.

Cada pessoa que passava pelo palco de sua vida era real, mas ela não havia aprendido a conviver com pessoas reais.

Para amá-las, ela precisava enxergar o que elas não tinham e apagar o que ela sabia que ia dispensá-las de seus papéis.

Com o passar do tempo, seus olhos deixavam de enxergar a essência de cada personagem e, cada vez que isso acontecia, ela sentia a dor de um tiro em seu peito.

Aquela pessoa não poderia mais estar na palco de sua vida, pois ela apenas conseguia enxergar um amontoado de ossos se movendo, de lá para cá, de cá para lá.

Após inúmeros tiros em seu peito, ela percebeu que precisava criar uma personagem tão fantasiosa, que ela jamais pudesse ver os ossos e que fizesse o papel principal de sua peça, eternamente.

E assim ela fez.

Essa “perfeita” personagem ficou durante anos no palco de sua vida. Ela passeava por seus olhos dia após dias, com toda a graça de sua juventude, com toda a beleza que poderia haver dentre todas as belezas que existem no infinito.

Porém, em um certo dia, tudo se desfez. (“porque o amor é a coisa mais triste quando se desfaz”). Como areia escorrendo por entre seus dedos, a personagem já não fazia sentido em sua peça.

Não porque ela havia enxergado seus ossos, mas porque, sem mais nem menos, sem querer, ela olhou para dentro de si e achou que tudo ao seu redor não passava de uma fantasia (“Deixa desilusão pra quem não sabe amar. E quem não sabe amar tem que sofrer. Porque não poderá compreender. Que o amor que morre é uma ilusão. E uma ilusão deve morrer”.)

Neste momento de extrema dor e lucidez, ela teve que apagar as luzes do palco, que era a única coisa que ela tinha em sua vida. Ou, pelo menos, o que ela mais prezava em sua vida.

Ela deu adeus à personagem mais perfeita e ilusória que já havia criado.

Ela sabia que jamais veria os ossos dessa personagem, mesmo tentando ver, ela não via! Como ela poderia ver?! Nem ela mesma podia entender.

Por mais que ela tentasse “matar” aquela personagem, ela não conseguia. (“Um verdadeiro amor nunca fenece e pouca gente ainda o conhece. Meu bem, se o teu amor morrer. É porque ninguém o entendeu”).

Mesmo sabendo que ela amava a personagem e não a pessoa real por trás da fantasia. (“Você não sabe amar, meu bem. Não sabe o que é o amor. Nunca sofreu, nunca viveu. Querer saber mais do que eu”).

Ela foi, então, obrigada a procurar pessoas reais para integrar sua vida real. E encontrou. (“Tá fazendo um ano e meio amor, que o nosso lar desmoronou. Meu sabiá, meu violão e uma cruel desilusão. Foi tudo o que ficou. Pra machucar meu coração”).

E, há algum tempo, aquela personagem que se foi junto com toda a sua fantasia, permanece intocada. Ela foi atuar em outros palcos, exatamente do jeito que ela foi criada, muito menos perfeita, muito mais perdida.

27/03 e 08/04/2010
T.L.




"Quem sabe, não foi bem melhor assim.
Melhor prá você e melhor prá mim.
O mundo é uma escola.
Onde a gente precisa aprender.
A ciência de viver prá não sofrer“.
(João Gilberto)

quarta-feira, 7 de abril de 2010

6 Minutos

(Otto)

Não precisa falar
Nem saber de mim
E até pra morrer
Você tem que existir

Não precisa falar
Nem saber de mim
E até pra morrer
Você tem que existir

Nasceram flores num canto de um quarto escuro
Mas eu te juro, são flores de um longo inverno
Nasceram flores num canto de um quarto escuro
Mas eu te juro, são flores de um longo inverno

Isso é pra morrer
6 minutos
Instantes acabam a eternidade
Isso é pra viver
Momentos únicos
Bem junto na cama de um quarto de hotel

E você me falou de uma casa pequena
Com uma varanda, chamando as crianças pra jantar

Isso é pra viver
Momentos únicos
Bem junto na cama de um quarto de hotel

D'um quarto de hotel
Num quarto de hotel

Não precisa falar
Nem saber de mim
E até pra morrer
Você tem que existir

Nasceram flores num canto de um quarto escuro
Mas eu te juro, são flores de um longo inverno
Nasceram flores num canto de um quarto escuro
Mas eu te juro meu amor, são flores de um longo inverno

Isso é pra morrer

Você me falou
E eu estava lá e falei

Isso é pra morrer
6 minutos
Instantes acabam a eternidade
Isso é pra viver
Momentos únicos
Bem junto na cama de um quarto de hotel

E você me falou de uma casa pequena
Com uma varanda, chamando as crianças pra jantar

Isso é pra morrer
6 minutos
Instantes acabam a eternidade
Isso é pra viver
Momentos únicos
Bem junto na cama de um quarto de hotel

E você me falou
Num quarto de hotel
Num quarto de hotel

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Pedaço de mim

(Chico Buarque e Zizi Possi)

Ó pedaço de mim, ó metade afastada de mim
Leva o teu olhar, que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento, é pior do que se entrevar.

Ó pedaço de mim, ó metade exilada de mim
Leva os teus sinais, que a saudade dói como um barco
Que aos poucos descreve um arco e evita atracar no cais.

Ó pedaço de mim, ó metade arrancada de mim
Leva o vulto teu, que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu.

Ó pedaço de mim, ó metade amputada de mim
Leva o que há de ti, que a saudade dói latejada
É assim como uma fisgada no membro que já perdi.

Ó pedaço de mim, ó metade adorada de mim
Lava os olhos meus, que a saudade é o pior castigo
E eu não quero levar comigo a mortalha do amor, adeus.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Despedida

Roubei do blog da Acácia.
Sem palavras.

"Quando você chorou eu chorei
Como se a dor fosse minha também
Você quis parar e eu escutei e quando fugiu eu tentei entender
Quando me pediu eu mudei, como me aceitava eu fiquei
Não tava em teu mundo e por isso eu sofri
Mas quando te procurei me perdi
Por que foi que eu me perdi...?
Aonde eu vivia você não
E onde eu voava você era o chão
Você caminhava era em meu coração
Como não me escutava eu gritei
Assim você ouviu a minha voz mas não entendeu a dor em mim
Era tudo tão perfeito pra você que me achei errado e me calei
Por que foi que eu me calei...?
Por que nunca ouviste a tua voz?
Por que se esconder tanto de você?
Eu sei bem os erros que eu cometi
Mas podia obrigar-te a me querer
Nunca fui capaz de te dizer o porque e o quanto eu te amei
Eu sei que me afastei de ti mas te afastaste de mim também
Te afastaste de mim também
Me lembro sempre do teu olhar
O brilho fugido do meu
Me prendendo na tua solidão me fez tão triste
Mas pra sempre feliz
Quis fazer de ti a minha salvação
Mas me vi sozinho e acho que desisti
Se quando você chorou eu chorei
Eu vou saber que ao me achar eu te perdi"



Wilco - I Am Trying To Break Your Heart (Wilco sempre engole meu coração)

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

2.8

Depois dos 26, você passa a analisar o que deveria ou não ter feito, o que poderia ou não ter feito, o que deve ou não fazer e o que pode ou não fazer.

Você deixa de pensar o que você QUER, de fato, fazer.

É a fase de se reeditar. Dolorosa.

Então, nesse aniversário, eu vou pensar o que eu quero e não o que eu devo ou posso.

O meu desejo, cada vez mais forte, é o de pegar a estrada e viver livre das bolas de ferro que eu mesma criei.

Ter uma casa com uma horta no quintal, colher o alface pro almoço ou o manjericão pro espagueti ao pesto do jantar, sabe?

Criar periquitos livres, observar um João-de-Barro carregar gravetinhos para construir sua casa e ver gatos esparramados pelos sofás, dormindo como bebês.
Ouvir cigarras.
Sentar na grama e olhar um amontoado de estrelas. Quem sabe ver uma cadente e dar um nome a ela!
Sentir o cheiro da chuva chegando.
Olhar para o horizonte. E ver apenas um horizonte e mais absolutamente nada além dele.
Ah, como é lindo ver dois arco-íris, um ao lado do outro.
O som de uma tropa de cavalos correndo, me encanta.

Tão simples esses meus sonhos. Tão distantes esses meus sonhos.

Nossa maior prisão é a que construímos para nós mesmos e, há algum tempo eu criei uma perpétua, na qual tenho sobrevivido nos últimos anos.

Mas minha pena está no fim! Alguém me disse que ela está.

Afinal, eu ganhei alguns descontos por bom comportamento.

E depois dessas (poucas) primaveras, descobri que vivo mais feliz quando não planejo, quando não espero nada e quando não esperam nada de mim. Eu posso sonhar e realizar ao invés de planejar, não posso?

Mesmo levando esporro de terapeuta, algumas pessoas simplesmente são assim, oras.

Que assim seja, então, 2010 dos 28.

Livre de mim mesma, em paz e com olhos brilhantes, cheios de sonhos.

T.L. 12/01/2010 - 15h30



"I wonder why we listen to poets when nobody gives a fuck.
I want a good life with a nose for things. The fresh wind and bright sky to enjoy my suffering. A hole without a key if I break my tongue. Oh, speaking of tomorrow, how will it ever come?
All my lies are always wishes. I know I would die if I could come back new."