sexta-feira, 17 de julho de 2009

Apenas mais uma

Era uma vez uma menininha que nasceu em uma linda manhã ensolarada de domingo.
Essa menininha era única, era a mais esperada, a mais desejada, a que resolveria todas as frustrações de todas as pessoas ao seu redor.
Ela era tratada como uma pequena princesa, rodeada de amor, de carinho, vestiam-na de boneca, com lindos vestidos lilases e fitas de flores nos cabelos cacheados cor de mel. Porém essa pequena criança sempre fora demasiadamente assustada. Seus olhos eram pequeninos, brilhantes, curiosos, mas o medo a fazia paralisar. Ela não entendia porque se sentia tão diferente das outras crianças, ela sentia tudo ao seu redor, coisas que as outras sequer podiam saber, como de fato era para ser.
Tudo para ela eram sensações estranhas e distorcidas, tudo nela era profundo e nada fazia sentido.
Seu pai tentava de tudo para que ela sorrisse. Ela era risonha, era uma criança feliz. Quando ela chorava (e ela chorava muito, pois era exageradamente sensível aos estímulos exteriores) seu pai usava uma colher e um copo para pegar cada lagriminha que caia daqueles olhinhos cor de caramelo. Ele dizia que encheria o copinho na tentiva de fazê-la sorrir e ele conseguia, ela sempre sorria. Nunca ninguém a mandara engolir seu choro, ele era resolvido com uma tremenda sensibilidade que só existia ali.

Lá por sua segunda infância ela passou a sentir alguns estranhos estímulos ao seu redor, algo que escondiam dela e ela não entendia porque as coisas não podiam ser faladas. Ela observava, sempre atenta, assustada.
Um certo dia ela então descobriu o que era. Seu mundo caiu sobre seus ombros (o que ela descobriria muitos anos depois que ele jamais sairia de cima deles) mas ela se manteve firme. Não queria mais que seu pai pegasse suas lágrimas com a colher, ela queria pegar as dele. Mas não podia, era ainda tão frágil, tão menina. Isso a fez descobrir uma terrível sensação de impotência. Ela entendeu que o melhor era que ela se trancasse em seu mundo de fantasias e continuasse apenas observando e sentindo sozinha a sua imensa dor. Não queria ser mais um fardo na vida de quem a amava tanto e esperava tanto dela.
Os anos foram se passando e ela já não sabia mais como viver no mundo das pessoas. Ela tinha o seu próprio mundo em que ninguém podia tocar, invadir ou machucar. Ela passou a não sentir mais nada que vinha de lugar nenhum. Ela só queria estar de coração aberto para que mais ninguém do mundo real sentisse aquela dor sufocante dentro do peito. Ela queria pegar todas as lágrimas de todas as pessoas com a colher e guardar no copo para que todas elas sorrissem e se sentissem protegidas.
Ela tentou ser o que todos esperavam que ela fosse. Ela lutou. Lutou tanto que em um certo momento já não sabia mais qual era a batalha em que estava. Ela foi se perdendo de todos. De todos que tanto amava e que tanto a amavam. Ela perdeu, naquele momento, a pessoa que a fazia sorrir, a única pessoa que a fazia sentir-se segura na vida. Eles se deixaram e nunca mais se encontraram. Ela sentiu raiva, sentiu dor, perdeu o fôlego anos a fio. Sentiu-se completamente abandonada por ela mesma. A solidão havia chegado em seu mundo de fantasias e passou a ser sua eterna companhia. Era o nada. Era o vazio. Não era o que ela queria. Ela não sabia que seria assim. Ela apenas queria ser forte para que não se preocupassem com ela. Ela não sabia que naquele momento estava definindo o resto de sua vida.

TL - 17/07/2009

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Borboleta

Existem dias
Que me perco em meio a minha dor
Dor que não se sabe porque dói
Onde dói
Apenas dói
E dói tão intensamente
Que o coração não aguenta
Bate descompassado
Desesperado em sofrimento
Querendo fugir
Escapar de dentro do peito
Terminar de uma vez por todas
Com toda a sua eterna insatisfação
Virar uma borboleta
E voar sozinho para nunca mais voltar.

TL - 15/07/2009 - 15h